E então ele sussurrou no pé dos cabelos loiros que caiam como uma cascata de ouro pelos ombros da garota que ainda lembrava-se com detalhes do dia em que se apaixonara perdidamente por ela. A garota sorriu por um momento e empurrou o peito do menino com as mãos, dizendo que não precisava mais conquistá-la com palavras doces e mentirosas, porque na verdade todo o seu ser já pertencia a ele.
Ele abraçou seus ombros, impedindo que ela continuasse empurrando seu corpo e encostou sua cabeça no alto da cabeleira dourada, os olhos muito verdes fixos no horizonte onde o sol já beijava o mar. Ele não estava mentindo, mas também não contrariara a garota. Ele ainda se lembrava do momento em que se apaixonara por ela.
Os olhos negros da menina estavam zanzando por todos os carros em alta velocidade que passavam na avenida à sua frente, as mãos apoiadas nos joelhos que, por sua vez, seguravam o queixo redondo da garota. Ele se aproximara com a mochila cheia de livros jogada nas costas e os olhos também fixos no movimento intenso da rua, sem nem perceber que a menina nova da sua sala estava sentada na calçada esperando o ônibus da hora.
Ele se sentara com certa distância dela e puxara os fones de ouvido para fora da camiseta, aumentando o volume e fechando os olhos para que não ficasse tonto com a velocidade dos veículos. Era mais um dia cansativo e comum, uma terça-feira sem grandes novidades.
Porém poucos segundos depois uma mão gelada chacoalhou seus ombros com uma força exagerada e, abrindo os olhos lentamente, percebera que era a magra garota de cabelos dourados que estava na sua sala há pouco mais de duas semanas. Ela tinha um sorriso sincero estampado nos lábios e assim que viu o verde dos olhos dele focalizar seu rosto, se jogou ao seu lado e começou um papo animado com o menino, que só conduzia a conversa e mostrava interesse pelos assuntos diversos que a garota falava.
Aquela era a primeira vez que ele via a menina conversar com alguém da escola.
Ela tinha gestos exagerados e quase acertara seu nariz duas vezes quando mostrava com as mãos o tamanho dos ursos de pelúcia que tinha desde pequena. Ela também tinha uma risada de sinos que poderia contagiar qualquer pessoa que estivesse à sua volta, e por mais que sua voz tivesse certo tom infantil, seus olhos eram como águas negras e profundas de um lago misteriosamente sereno. As unhas pintadas com um vermelho sangue enquanto nas orelhas ela levava duas pequenas e angelicais pérolas. Ela era um paradoxo de cabelos loiros que despertava algo estranho dentro dele.
E por mais que ele não percebesse aquilo na mesma hora, tinha se apaixonado completamente por aquela contradição de menina.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
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