- Jake? Pelo amor de Deus, é você mesmo? – Jake? Nãããão, aquilo era fisicamente impossível, mesmo que eu nunca tenha gostado de física. Quero dizer, eu vi o meu Jake machucado, eu ouvi o Dr. Richard dizer que ele corria risco de vida e fui eu que joguei a sua chave dentro daquele buraco gigantesco quando eu tive que me despedir de você. Então, o que você estava fazendo aqui? - Ah, Lil, não vá me dizer que já me esqueceu? – um sorriso abafado brincava dentro do seu peito e um hálito frio fez com que eu perdesse meu fôlego quando ele aproximou seu rosto do meu e sorriu. Era o mesmo hálito de menta, só um pouco mais... frio.
- Não, não, não! – se aquele era mesmo o meu Jake, eu tinha que deixar bem claro que nunca conseguiria esquecê-lo. Nem em dois mil anos! – Por favor, não pense isso, é só que... não dá pra acreditar que você está aqui, entende?
Ele riu e eu senti vontade de tocar o seu rosto e beijar seus lábios, já que agora a saudade transbordava no peito e pedia que eu tivesse novamente as mãos de Jake entrelaçadas nas minhas. Mas, se ele era mesmo um fantasma, tudo dizia que eu não conseguiria tocá-lo, certo?
- Como eu não entenderia? Eu te conheço, Lil, se esqueceu? – eu sorri e chacoalhei a cabeça, evitando ao máximo piscar, com medo de que ele desaparecesse do mesmo modo como apareceu. – Sorvete de chocolate com calda de baunilha, cardigãs coloridos, flores silvestres e comédias-românticas. "Sem sangue, por favor!". – ele sussurrou, imitando a minha voz.
- Mas como... você sempre esteve aqui? VOCÊ SEMPRE ESTEVE AQUI? – eu juro que posso socar aquela cara se ele disser que vinha aqui sempre e só hoje resolveu aparecer.
- Não, não. Eu consegui... escapar por uns minutinhos, sabe como é. – ele sorriu, piscando, e eu senti uma necessidade imensa de tocá-lo. Levei minha mão até seu rosto, quando ele chacoalhou a cabeça e disse, num suspiro. – Aquilo dos filmes, sabe? Sobre atravessar paredes e tudo o mais? É verdade... Quero dizer, só eu posso tocá-la, mas você não conseguirá me sentir. Nem tente, amor.
Eu sorri, sem-graça, e enfiei minhas mãos dentro do bolso da jaqueta enquanto observava suas feições sem dizer absolutamente nada. Ele estava intacto, por Deus: seus olhos continuavam lindos, e aqueles machucados tinham desaparecido do seu rosto. Obrigado!
- Por favor, feche seus olhos. – O quê?
- O QUÊ? – eu arfei e me segurei para não bater no seu peito que, na verdade, não estava ali. Eu me recusava a fechar sequer meus olhos para piscar, que dirá fechar meus olhos por mais tempo que milésimos de segundo. Quem sabe o que pode acontecer quando eu fechar os olhos? O meu Jake pode desaparecer feito fumaça, não!
- Você ainda acredita em mim, certo? – OK, lá vinha ele novamente com esse truque baixo de desconfiar da minha confiança. Eu sempre cedia, e sentia que agora não poderia ser diferente. Porque, afinal de contas, eu realmente acreditava nele.
- Você venceu novamente, seu espertalhão. – eu respirei bem fundo, me preparando com o fato de que, talvez, quando eu abrisse novamente os olhos, não encontrasse mais a figura perfeita de Jake sentado ao meu lado, totalmente relaxado. E fechei os olhos.
Parecia irreal. Era como se pequenos borrifos de cristais de gelos passassem pelo meu rosto e acariciassem minhas bochechas, ao mesmo tempo em que eu não sentia realmente isso. Quero dizer, era como se uma brisa suave de inverno estivesse ali, na minha frente, acariciando meu rosto.
- Deixa-me abrir os olhos, por favor...
A brisa suave de inverno tocou uma das minhas mãos e uma leve pressão nos meus dedos fez com que eu sentisse, novamente, o meu coração parar dentro do peito e depois voltar ao trabalho, num tranco surdo.
- Eu sempre te amarei, minha Lil. – e quando eu me preparava para retribuir suas palavras, depois de retomar o controle sobre a minha voz, embargada por lágrimas quentes de saudades, a pressão dos meus dedos agora se encontrava na minha boca. Suave, doce e com um adorável cheiro de menta.
Eu queria estreitar meus braços ao seu redor e me afundar no seu colo, mas sabia que encontraria o vazio. E eu estava evitando, ao máximo, o sumiço de Jake. Mal respirava, na verdade, com medo de que qualquer gesto, mesmo que passasse longe do brusco, afastasse sua presença.
- Por favor, viva a sua vida por mim, Lil. – e, num repente, a pressão gelada nos meus lábios cessou.
Não!
Eu abri meus olhos e encontrei o vazio, o mesmo jardim. As lágrimas vinham novamente à tona, mas não era felicidade nem tristeza. Era saudade, pura e simples saudade. Porque eu sabia, muito bem, que tê-lo visto uma vez mais já era sorte demais e que isso não voltaria acontecer.
- Ok, Jake. – eu me levantei num pulo e sequei duas lágrimas que escorriam, teimosas, pelo meu rosto. Tratei de abrir um sorriso e procurar a chave do jardim no bolso da minha jaqueta, enquanto sussurrava para o escuro. – Eu viverei a minha vida por nós dois, querido.
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